domingo, 4 de janeiro de 2009

Religião e Moralidade

A Religião pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural, divino e sagrado, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.

A Moral é o conjunto de costumes e juízos morais de um indivíduo ou de uma sociedade; teoria que pretende orientar a ação humana submetida ao dever e com vistas ao bem; conjunto de normas livres e conscientemente aceitas que visam organizar as relações dos indivíduos na sociedade.

Arrolar todas as religiões existentes no mundo ao conteúdo do trabalho iria pouco acrescentar, uma vez que buscamos fundamentos para corroborar a história da humanidade.Teses apresentadas. Necessariamente usaremos como amostragem três Religiões: O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.

O Judaísmo é a primeira das grandes religiões monoteístas (crença em um só Deus), surgiu como uma fé separada. Acredita-se que Moisés recebeu de Deus os Dez Mandamentos no Monte Sinai, por volta de 1200 a.C. Ele uniu o povo judeu e ajudou seu sucessor Josué a conquistar a terra de Canaã, a qual os judeus renomearam como Israel. Uma revolta contra o domínio romano acabou com a destruição do Templo em Jerusalém, em 70d.C. e os exilados espalharam o Judaísmo em todo o mundo. Sua principal crença é que: os judeus vêem o mundo criado como essencialmente bom e acreditam que há um plano divino na Terra.

Relacionamos abaixo algumas citações judaicas para melhor enfatizarmos qual o comportamento adequado ao seguidor do Judaísmo:
"Homem que pretende praticar uma boa ação, mas é impedido de a fazer, deve ser considerado como se a tivesse feito". Talmude Babilônico, Kidushim
"É fácil adquirir um inimigo; difícil é conquistar um amigo" Midrax, Pentat. 845
"Não perguntes; a ação é a coisa principal"
Fonte: Pirkei Avot.

Jesus Cristo, fundador da religião que traz o seu nome, era judeu. Sua doutrina, através da qual afirmava que os judeus não eram superiores aos demais povos, uma vez que haviam se afastado das leis divinas, juntamente com a alegação de que falavam com a autoridade de Deus, puseram-no em conflito com a tradição judaica. Ele acabou preso e crucificado em Jerusalém. Seus seguidores foram então perseguidos, sendo mortos por judeus e pagãos, que os consideravam hereges pelos dois séculos seguintes. Apenas quando o imperador Constantino converteu-se ao Cristianismo em 311, a religião cristã tornou-se a fé oficial do Império Romano. Os ditos discípulos do Caminho tiveram paz, passando então a oprimir os seus antigos perseguidores. Os seguidores levaram sua mensagem a todos os cantos do mundo, de modo que hoje o Cristianismo é a mais disseminada religião monoteísta.

Abaixo um discurso do Papa João Paulo II após constatar o enfraquecimento mundial do Catolicismo.
. Precisamos de Santos
"Precisamos de Santos sem véu ou batina.
Precisamos de Santos de calças jeans e tênis.
Precisamos de Santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos.
Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar, mas que se "lascam" na faculdade.
Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar e que saibam namorar na pureza e castidade, ou que consagrem sua castidade.
Precisamos de Santos modernos, santos do século XXI, com uma espiritualidade inserida em nosso tempo.
Precisamos de Santos comprometidos com os pobres e as necessárias mudanças sociais.
Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo.
Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dog, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc man.
Precisamos de Santos que amem apaixonadamente a Eucaristia e que não tenham vergonha de tomar um refri ou comer uma pizza no fim-de-semana com os amigos.
Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de esporte.
Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.
Precisamos de Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos”.
Para finalizar o estudo das religiões abordaremos o Islamismo:
O Islão ou Islã é uma religião monoteísta que surgiu na Península Arábica no século VII, baseada nos ensinamentos religiosos do profeta Muhammad (Maomé) e numa escritura sagrada, o Alcorão. A religião é conhecida ainda por Islamismo.
Cerca de duzentos anos após o seu nascimento na Arábia, o Islão havia se difundido em todo o Médio Oriente, no Norte da África e na Península Ibérica, bem como na direção da antiga Pérsia e Índia. Mais tarde o Islão atingiu a Anatólia, os Bálcãs e a África subsariana. Recentes movimentos migratórios de populações muçulmanas no sentido da Europa e do continente americano levaram ao aparecimento destas comunidades nestes territórios.
A mensagem do Islão caracteriza-se pela sua simplicidade: para atingir a salvação basta acreditar num único Deus, rezar cinco vezes por dia, submeter-se ao jejum anual no mês do Ramadão, pagar dádivas rituais e efetuar, se possível, uma peregrinação à cidade de Meca.
O Islão é visto pelos seus aderentes como um modo de vida que inclui instruções que se relacionam com todos os aspectos da atividade humana, sejam eles políticos, sociais, financeiros, legais, militares ou interpessoais. A distinção ocidental entre o espiritual e temporal é, em teoria, alheia ao Islão Citações Islâmicas: "O mais forte é aquele que sabe dominar-se na hora da cólera". Fonte: "Maomé"
"Retribui o mal com o bem, e eis, aquele entre o qual e vós houvesse inimizade, se tornaria vosso sincero amigo". Fonte: "Corão 41,34"
"A concórdia é o melhor, apesar de o ser humano, por natureza, ser propenso à ganância" Fonte: "Corão, 4º Surata, 128”.

É inevitável aos seres humanos relacionar a moral e até mesmos o costume às religiões. O ser moral é aquele que segue os preceitos determinados pelos mais diversos "representantes supremos" religiosos.
Observamos a presença da religião como um fator essencial à convivência humana. É nela que as pessoas se baseiam para distinguir o correto do errado, e, portanto, o moral do imoral.
O indivíduo, mesmo que não pertença a nenhuma religião, de alguma forma é compelido a viver sob as normas morais cujo fundamento é religioso. As normas jurídicas de muitos Estados também estão fundadas em mandamentos religiosos, mesmo que da forma mais obscura possível; entretanto negar isso é inimaginável.
Podemos afirmar ante os relatos acima que é a busca da salvação que conduz os indivíduos a atitudes consideradas por muitos, morais. Desde a primeira religião do mundo, regras começaram a serem impostas; essas se tornaram valores morais.
Apesar de não possuirmos somente uma religião no mundo, a maioria converge para objetivos idênticos, existindo raras exceções. Devido a essa unidade de pensamentos podemos afirmar que, imensas vezes, a moralidade advém das religiões.
As atitudes fundamentadas em crenças religiosas são tidas como morais, pois são avalizadas pela sociedade em que a religião é predominante.
O estudo e a prática das diversas religiões é uma atividade que exige cuidado, pois os paradigmas são muitos.
Nesse contexto, inicio o segundo tema do trabalho com uma pergunta banal. É permitido tirar a vida de outra pessoa? Então o que são as "guerras santas"? São atos imorais ou amorais? Deus legitima o poder dos homens guerrearem, às vezes, por apenas um pedaço de terra.
De uma maneira geral, até os filósofos religiosos (ou talvez estes em especial) têm sido cautelosos em relação às manifestações populares da religião.

Kant, um simpatizante da fé religiosa, distinguiu várias perversões dessa fé: a teosofia (uso de concepções transcendentais que confundem a razão), a demonologia pode nos comunicar sentimentos ou de que podemos exercer influência (favorecimento de concepções antropomórficas do Ser Supremo), a teurgia (ilusão fanática de que esse ser sobre Ele) e a idolatria ou a delusão supersticiosa de que podemos nos tornar aceitáveis perante o Ser Supremo através de outros meios que não o de ter a lei moral no coração (Crítica da Faculdade do juízo).
Émile Durkheim, definiu a religião como um instrumento de dominação cuja utilidade é definida, porém limitada. Ao relacionarmos essa definição com a atualidade vemos exatamente o inverso.
Freud considerava a Religião uma opressão ao ser humano: "Afastando suas expectativas em relação a um outro mundo e concentrando todas as energias liberadas em sua vida na Terra, provavelmente conseguirão alcançar um estado de coisas em que a vida se tornará tolerável para todos e a civilização não mais será opressiva.”.
A dominação carismática citada por Marx Weber está presente na moralidade. Agir ou não de acordo com a moralidade religiosa é uma forma de dominação.
Dante Alighieri em sua obra: A Divina Comédia transpõe a nova explosão de costumes de uma sociedade que não tinha referência sólida ao se apegar. Dante visou salvar a humanidade do abismo do pecado em que este parecia ter caído.
A eutanásia é permitida em Israel: "Pela lei judaica, um homem não pode abreviar a vida de outro, mas uma máquina pode." Do porta-voz do Parlamento israelense, justificando a lei que legaliza a eutanásia para doentes terminais, a qual será efetuada por um dispositivo colocado no equipamento que mantém a respiração artificial do paciente. Fonte: Revista Veja, Edição 1935, 14 de dezembro de 2005. Os judeus que vivem no Brasil consideram a eutanásia como uma atitude moral ou imoral? E a comunidade mundial amparada pela Declaração dos Direitos Universais do Homem?
Madre Teresa de Calcutá passou por questionamentos relativos à existência de Deus e não por isso deixou de ser moral, muito longe disso. Em uma carta concessória, a religiosa disse: "Disseram-me que Deus me ama, e ainda assim a escuridão, o frio e o vazio são tão grandes que nada toca a minha alma. Terei eu errado ao me entregar cegamente ao chamado do Sagrado Coração." Não foi essa e nenhuma outra declaração que arrancou as qualidades morais de Madre Teresa, pessoa que interviu durante toda a vida em favor dos mais necessitados.
Santo Agostinho só passou a acreditar na existência divina quando desistiu de compreender os mistérios da fé, mesmo assim, até Santidade tornou-se. Com certeza, o religioso é decididamente moral; "de acordo com a Igreja".
Nietzsche, em sua obra Além do Bem e do Mal, logo na apresentação questiona a relação moralidade e religião. O homem é dotado de duas forças antagônicas que na realidade são inclinações ou tendências de vida: O Bem e o Mal. O autor coloca a criação da moral humana a pari passu a da moral religiosa, porém uma existe sem que seja necessário a outra. A moral humana dita princípios amplos e simples de convivência humana. Já a moral religiosa estabeleceu normas rígidas que criaram uma divindade que lhe daria respaldo para ditar essas normas de coação, opressão e escravidão. Nietzsche questionava a legitimidade dessas normas ao perguntar se é possível uma vida sem sentimento de culpa diante da moral cristã? E ainda mais. Perguntou-se no livro O Anticristo: A divindade criadora e reguladora da moralidade existe?
O questionamento principal nesta segunda parte do trabalho é se existe moral sem religião?
O que pode ser dito a favor das religiões é que elas impõem um "pacote" de valores aos fiéis com conceitos básicos de moral e ética e que, na falta de melhor, em alguns casos, realmente ajuda a orientar as pessoas. Mas apresentam uma falha básica, ou seja, elas afirmam que é preciso ser bom e justo porque Deus assim o quer. Se fizermos a vontade dele seremos eternamente recompensados, caso contrário sofrerá um castigo eterno. A verdadeira virtude segundo Aristóteles baseia-se no exercício da razão, não na esperança de uma recompensa ou no medo de um castigo, o que em nada difere dos métodos usados por domadores de animais.
Se nós entendemos por que é preciso fazer isto ou não podemos fazer aquilo, nossa ética será muito mais forte do que a imposta por dogmas. Pelo contrário, como disse Feuerbach: "Quando a moral se baseia na teologia, quando o direito depende da autoridade divina, as coisas mais imorais e injustas podem ser justificadas e impostas".
A lei básica da ética e da moral foi estabelecida séculos antes de Cristo. Uma de suas versões é a "Lei de ouro" (Confúcio, 500 a.C.): "Façam aos outros o que gostariam que lhes fizessem. Não façam aos outros o que não gostariam que lhes fizessem. Vocês só precisam desta lei. É à base de todo o resto". Outro modo de dizer isto é: não há pecado, não há um deus que premie ou castigue, há conseqüências. Cada um deve suportar as conseqüências do que faz.
Sem religião, as sociedades mais cedo ou mais tarde se darão conta de que ética e moral se justificam por si mesmas e não devido a vagas crenças em coisas não comprovadas. Seus valores serão baseados na razão e, portanto, muito mais sólidos. Pelo contrário, crenças religiosas nos permitem atribuir aos desígnios de uma entidade abstrata e onipotente os problemas que afligem o mundo e nos tiram assim a responsabilidade de resolvê-los. Até mesmo grupo de chimpanzés e gorilas têm suas leis; sua inteligência, ainda que limitada, lhes permite reconhecer que, sem elas, a convivência não seria possível e o grupo se autodestruiria.
Alguns podem se questionar como seríamos hoje sem ter religião ao longo dos séculos. Uma coisa é certa: milhões de pessoas não teriam morrido na fogueira ou torturadas. Civilizações e suas culturas não teriam sido arrasadas por serem pagãs. A ciência não teria se estagnado por tanto tempo (e mesmo regredido) por medo da fogueira. As mulheres não teriam sido afastadas de uma participação ativa ao lado dos homens nem tratadas como simples reprodutoras, o "vaso imperfeito que recebe o sêmen perfeito do marido".
Aquilo que nos parece ser as contribuições da religião para o bem-estar e o progresso da sociedade foi, na verdade, obra de indivíduos e organizações bem-intencionados mais do que o resultado de uma crença religiosa. Somando-se tudo, é possível que o resultado ainda seja mais negativo que positivo.


Bibliografia:
ARMSTRONG, Karen – Uma História de Deus. Quatro Milênios de Busca do Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. Ed. Companhia Das Letras, São Paulo, 2001.
NIETZSCHE, Friederich – O Anticristo. Tradução: Pietro Nassetti. Ed. Martin Claret, São Paulo 2006.
NIETZSCHE, Friederich – Além do Bem e do Mal. Tradução: Antônio Carlos Braga. Ed. Escala, São Paulo 2005.
QUINTANEIRO, Tânia; OLIVEIRA BARBOSA, Maria Lígia; MONTEIRO DE OLIVEIRA; Márcia Gardênia – Um toque de Clássicos. Ed UFMG, Belo Horizonte 2003.
SENNET, Richard – O Declínio do Homem Público As Tiranias da Intimidade.Tradução Lygia Araújo Watanabe Ed. Companhia Das Letras. São Paulo 2005.
DE SOUZA, Ricardo Luiz – Do sagrado ao profano: a sociologia de Max Weber. INTERSEÇÕES, junho de 2006.ALIGHIERI, Dante – A Divina Comédia. Ed. CEDIC. São Paulo 2002.